China e Rússia compram Fator VIII e produto falta no Brasil
Necessidade de cumprimento de trâmites administrativos proporciona morosidade no processo de compra.
A entrada da China e da Rússia como compradores de Fator VIII, a Legislação brasileira para licitações (a necessidade de aquisição de quantitativos limitados ao exercício orçamentário de cada ano para compras por parte dos órgãos do governo, e a falta de interesse das empresas que possuem produtos registrados no país em participarem dos certames licitatórios são os responsáveis pela falta do produto nos estoques dos hemocentros do Brasil. A opinião é do coordenador da Política Nacional de Sangue e Hemoderivados, Guilherme Genovez em entrevista ao CBH Online. Para ele, além da entrada desses dois países no mercado comprador existe a burocracia que impede a compra mais rápida e é, na opinião dele, necessário que o Brasil pague o preço que mercado internacional exige. “É a lei de oferta e procura”.
CBH online – Por que há dificuldade no abastecimento de Fator VIII no Brasil?
Guilherme Genovez – O Brasil esta tendo um pouco de dificuldade para comprar a quantidade de Fator VIII no mercado internacional para tratar todos os hemofílicos. Isto acontece por duas razões: uma por causa da oferta do fator, porque os fatores de coagulação que nos usamos no Brasil, a maioria é derivada do plasma, e essa matéria prima está cada vez mais escassa no mundo e a segunda é que nos últimos dois, três anos, dois grandes compradores mundiais, que não estavam no mercado, entraram (no mercado) que são a China e a Rússia. Como a venda de fator segue as leis de mercado, de oferta e de procura, houve uma variação muito grande nos preços praticados no ano passado e no anterior em relação a este ano. Nós temos toda uma legislação para evitar corrupção e superfaturamento que gera todo um procedimento complexo que legalmente deve ser realizado e isto dificulta (torna mais moroso o processo de compra) esse tipo de compra. Essas medidas preventivas para o bom uso do dinheiro público acabam emperrando a compra. Diferente de uma empresa privada que pode fazer a compra com mais velocidade. Para se fazer uma compra do fator de coagulação, o pedido e a autorização passam por vários setores para cumprimento da exigência legal. Isto gera uma morosidade para compra(r). Associa-se a isto, a variação do preço internacional e a dificuldade de programação para de produção dos produtos pelas empresas ao Brasil por falta de contratos de longo prazo. No final do ano de 2007, o MS realizou pregões para compra de Concentrado de Fator VIII e não apareceu nenhuma empresa para vender.
CBH - Por quê?
Genovez - Não houve interessado, não havia fator para entregar, venderam tudo a outros mercados e o nosso ficou desabastecido.
CBH – Por que a Rússia e a China compram tanto assim?
Genovez - Eles não compravam. Os governos tentavam resolver os problemas da falta de hemoderivado dentro dos próprios países. Os dois países vieram de economias socialistas e os governos tentavam resolver os problemas de hemoderivados dentro dos próprios países. Tanto que os dois países tiveram problemas gravíssimos com doenças transmitidas pelo sangue. Tem regiões, como a de Renan, na China, em que um porcentual elevado da população são HIV positivo ** . A mudança do olhar do governo chinês com relação a este tipo de tratamento, haja vista, o fato de não comprar no mercado internacional estava tornando muito caro o tratamento da soro-conversão desses indivíduos tardiamente. Então eles se transformaram em grandes compradores de uma hora para outra.
CBH - Quanto tempo o Brasil sofrerá com esse desabastecimento?
Genovez – O Brasil terá que pagar um preço competitivo de mercado porque as empresas trabalham dentro desse cenário. Mas a partir do dia 7 de julho o mercado estará abastecido por com fator VIII. A empresa Baxter foi a vencedora do último certame licitatório, no qual adquirimos 120 milhões de unidades internacionais, que são suficientes até o final do ano. Se não houver atraso da empresa, teremos abastecido os Centros de Atendimento aos pacientes a partir da primeira semana de julho.
CBH – Quanto custou essa compra?
Genovez - Cerca de R$ 50.150.000,00
CBH – Quanto o Brasil, China e Rússia pagavam?
Eles pagavam U$ 0,23 por unidade e passaram a pagar U$ 0,30 e nós pagávamos U$ 0,22 e agora pagamos U$ 0,236. Estamos diante de um cenário de mercado internacional.
CBH – O governo já falou em profilaxia para atender os hemofílicos. Quanto é necessário para esse tratamento?
Genovez - Cerca de U$ 200 milhões por ano. A coordenação da Política Nacional de Sangue e Hemoderivados já encomendaram um estudo junto a UFBA sobre o custo de profilaxia primária em pacientes hemofílicos para conhecimento do orçamento necessário para implantação e sustentabilidade da ação. A disponibilidade do fator para a compra é a questão mais crítica no processo.
CBH – A Hemorrede distribuiu um comunicado informando que não há estoque do Complexo Protombínico fr. 500-6000UI.
Genovez - Não há falta desse produto. Nós temos estoque. O Pregão para nova compra já está em andamento.
**comentário:
Clique e veja matéria no site da BBC
Approximately 69,000 former commercial blood and plasma
donors and recipients of blood or blood products through
transfusions, are living with HIV/AIDS, accounting for 10.7% of
the total number of estimated HIV cases. Five provinces -
Henan, Hubei, Anhui, Hebei, and Shanxi - account for 80.4% of
infections in this population.
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